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FTS - Novo financiamento promove segurança política para 30 lideranças negras do país

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Foto: Mikhail Nilov / Pexels

Por Daniel Cerqueira 

Apesar de ser um país com uma maioria negra, historicamente a política brasileira tem sido dominada por homens brancos. O cenário vem se alterando com aumento significativo na representação política de lideranças negras. Para se ter uma ideia, foram eleitas/os 134 deputadas/os autodeclaradas/os negras/os para a Câmara dos Deputados ante a 123 parlamentares pretas/os e pardas/os em 2018.


Alguns destas/es líderes já desempenharam papéis importantes na política brasileira. Um caso emblemático é o de Marielle Franco (PSOL-RJ), vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018. Franco era uma defensora dos direitos humanos e dos territórios periféricos e tornou-se um símbolo da luta contra a violência policial e o racismo.

Outra líder política negra notável é a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que já foi governadora do estado do Rio de Janeiro e ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Benedita da Silva é uma defensora da igualdade racial e de gênero, e sua carreira política tem sido marcada por lutas por justiça social e econômica.

A Fundação Tide Setubal tem trabalhado no apoio ao desenvolvimento e fortalecimento de novas lideranças para ocupar espaços de poder e de decisão desde 2021, por meio do Edital Traços, que compõe a Estratégia Caminhos da Plataforma Alas. Após duas edições de editais públicos nas quais foram selecionadas pessoas de todas as regiões do Brasil para poderem receber suporte financeiro e formativo, em 2023, o Traços 3 será realizado por meio de convite às lideranças políticas do edital anterior.

Viviane Soranso, coordenadora do Programa de Raça e Gênero da Fundação, relata ter ouvido em diversos grupos direcionados à população negra que as lideranças não eleitas têm desgaste emocional e financeiro no período eleitoral. Isso é somado ao fato de elas terem a imagem muito vinculada ao partido, fazendo-as encontrarem mais dificuldades de se reinserir no mercado de trabalho, quando não eleitas.

“Estas lideranças precisam de segurança e sustentabilidade. Com esta chamada, a ideia é que elas consigam ter segurança política, ou seja, se estruturar para retomar seus processos de vida e possam continuar se aprimorando para as próximas eleições. O processo de formação eleitoral não pode se dar somente no ano da eleição, mas em médio e longo prazos.”

Diana Mendes, gestora do portfólio de equidade racial do Instituto Ibirapitanga, uma das organizações apoiadoras do edital junto da Open Society Foundations e do Instituto Galo da Manhã, reafirma a importância deste trabalho no incentivo a presença de lideranças negras na política institucional: “é preciso dar a elas estruturas e condições para que consigam trilhar esse caminho e ocupar cada vez mais os espaços de tomada de decisão.”

Os chamados para o Traços 3

Para este novo apoio, foram convidadas a participar do processo seletivo 42 lideranças das edições anteriores de editais da Fundação Tide Setubal. Entre elas, até 30 serão escolhidas para receber, no primeiro semestre de 2023, R$ 15 mil para um plano de desenvolvimento.

Já no segundo semestre, elas poderão dobrar este valor ao elaborarem um plano de captação de R$ 5 mil na Plataforma Alas. Por meio da modalidade matchfunding, as lideranças anteriormente selecionadas terão esse valor triplicado, somando, ao final dos dois semestres, R$ 30 mil de aporte financeiro.

Por meio da experiência adquirida na organização de editais ao longo dos anos, Viviane destaca a relação de confiança criada por meio das edições anteriores do Traços. “O edital mostrou que trabalhar com a questão de confiança traz o retorno e o respeito de volta, com todos os/as apoiados utilizando efetivamente os recursos para os propósitos aos quais se colocaram. Por isso, estamos muito tranquilos de que essa nova chamada será, de fato, utilizada para o desenvolvimento de futuras/os líderes políticas/os do país”.

Dados mostram aumento na participação

O aumento da população negra nos espaços da política institucional já vem de alguns anos. Nas eleições de 2018, houve um aumento significativo no número de candidatos disputando cargos políticos no Brasil. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 48,6% das candidaturas nas eleições de 2018 eram de pessoas autodeclaradas negras, o que representa aumento em relação às eleições anteriores. No entanto, o número de negras/os eleitas/os não acompanhou essa tendência: apenas 24,4% das/os candidatas/os foram eleitas/os.

Em 2021, a Câmara dos Deputados aprovou uma emenda constitucional que estabelecia a reserva de vagas para candidaturas de pessoas negras nas eleições de 2022. De acordo com a emenda, os partidos políticos deviam reservar um percentual mínimo de vagas de pessoas com esse perfil racial, que deveria ser igual ao percentual de pessoas negras na população de cada unidade federativa.

Saiba mais

Acompanhe mais informações sobre a terceira edição do Edital Traços na Plataforma Alas e nos perfis da Fundação Tide Setubal no Instagram, LinkedIn e Facebook.