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FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL - Exibição da temporada 4 de Ancestrais do Futuro marca sessão de estreia do Cineclube Spcine Galpão ZL
- Detalhes
- Criado em 05/11/2024
Foto: Marcos Roberto
A primeira sessão do Cineclube Spcine Galpão ZL mostrou para jovens do Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo, que é possível contar as suas próprias histórias – e do jeito como quiserem. Que elas e eles poderão roteirizá-las a partir das suas próprias perspectivas e usar as próprias lentes para desenvolver a fotografia que quiserem mostrar. E que têm, sim, o direito de ser protagonistas das suas respectivas histórias.
Nesse sentido, tal abordagem não é metafórica. A sessão de estreia do projeto, que é fruto de parceria entre a Fundação Tide Setubal e a Spcine, empresa de cinema e audiovisual de São Paulo, a qual consiste em iniciativa da Prefeitura de São Paulo com foco no desenvolvimento dos setores de cinema, TV, games e novas mídias, contou com participações de representantes das cinco coletivas que produziram episódios para a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, cuja estreia ocorreu em outubro.
A atividade inaugural do Cineclube Spcine Galpão ZL, que teve mediação de Regiane Souza, integrante do Núcleo AOTA, um dos grupos integrantes da temporada atual de Ancestrais do Futuro, teve presenças de:
- Augusto Santos, do Cine Kafuné (RS);
- Carol Canuto, da Coquevídeo (PE);
- Everton Matias, do Núcleo AOTA (SP);
- Jean Ferreira, da Gueto Hub (PA);
- Luan Melo, da Bora Fazer Filmes (MT).
Além do que se vê
O protagonismo de narrativas para além das hegemônicas deu o tom do evento de lançamento do Cineclube Spcine Galpão ZL. Nesse sentido, durante sua intervenção, Everton Matias destacou que a história de uma pessoa periférica precisa ser contada de maneira real.
Desse modo, ao falar de projetos que estiveram na programação do evento, o cineasta destacou o papel de agência que as populações de territórios periféricos podem ter no contexto cinematográfico. “Quando trazemos a ficção e a questão documental desse projeto, estamos contentes com os nossos. Então, quem se impactou com a produção que foram exibidas pode ser uma pessoa produtora, cineasta ou roteirista. Considero que o cinema tem várias possibilidades de criação e de compartilhar o conhecimento.”
Ainda ao trazer à tona narrativas invisibilizadas, Augusto Santos falou da centralidade que a religiosidade de matriz africana tem no filme De Bará a Oxalá. O ponto central disse respeito à relação que as populações de terreiros no Rio Grande do Sul criaram com os territórios onde estavam. Isso contemplou também a corrida contra o tempo para apoiar as respectivas populações após os desastres decorrentes de eventos climáticos extremos no Estado, em abril e maio de 2024. E isso tudo, inclusive, enquanto a própria subsistência estava também em xeque.
“Esses terreiros fizeram um trabalho social durante as enchentes: abrigaram outros terreiros e outras pessoas, que não eram de terreiros e foram afetadas. Houve distribuição de alimentos, roupas e do que mais as comunidades precisassem. Os terreiros têm a tradição de distribuir o axé, que é distribuir energia, alimento e a força que as comunidades precisam para enfrentar as dificuldades e buscar os seus direitos dentro da sociedade”, ressaltou.
Assista à temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro
Rede em cena
Durante sua participação no evento de lançamento do Cineclube Spcine Galpão ZL, Luan Melo destacou o caráter coletivo do fazer audiovisual. “Todos nós aqui somos uma pessoa representando, mas atrás de nós tem muitas outras pessoas que não devem estar aqui, mas vocês viram nos créditos.”
Desse modo, ao considerar a lógica segundo a qual a produção audiovisual é feita com várias pessoas e a várias mãos, o cineasta da Bora Fazer Filmes descreveu como esse aspecto tem reflexo no resultado dos filmes. “No caso das periferias e dos coletivos LGBTQIAP+ – faço parte de um coletivo LGBTQIAP+ -, nós nos unimos para falarmos sobre as nossas histórias e vivências.”
Ao reforçar o caráter coletivo no audiovisual, Jean Ferreira destacou um aspecto que tem elementos de metalinguagem: a atuação coletiva da organização que virou tema do documentário da Gueto Hub e a incidência, por meio da iniciativa COP das Baixadas, em Belém, para incidir sobre o nível e os temas de debates em âmbito socioambiental na COP30 – trigésima edição da Conferência da Partes, da Organização das Nações Unidas (ONU) -, ao colocar as demandas e o protagonismo das populações periféricas em espaço de destaque. Nesse sentido, ele reforça a seguinte dimensão: todas as narrativas importam.
“Somente a diversidade de narrativas de diferentes territórios pode fazer uma solução que realmente atenda a todos. Se vocês não se sentem representados por essas pessoas que estão debatendo o clima – negociadores, geralmente homens brancos da Europa -, falando o que deve ser feito no mundo todo, é necessário começar o movimento de começar a entrar nessas bolhas e furá-las para haver soluções que nos atendam e nos abranjam”, completa.
Registrar o território
Uma dimensão que obteve destaque durante a primeira sessão do Cineclube Spcine Galpão ZL disse respeito à relação entre educação e audiovisual. Desse modo, Luzia de Souza, professora da EE Pedro Moreira Matos, situada no Jardim Lapena, fala sobre a importância que iniciativas com esse perfil para reforçar, por meio dos filmes, temas debatidos em sala de aula.
Durante a atividade, inclusive, a docente falou sobre trabalhos que desenvolvera com estudantes em âmbito audiovisual, para lhes incentivar a ampliar horizontes socioculturais. E essa premissa dialogou com a proposta do cineclube.
“Para além da linguagem artística em si, os curtas-metragens apresentaram vários temas de preocupação da humanidade. Trata-se da diversidade, já que diversos estados participaram, da religiosidade matriz africana e do meio ambiente. Esses são assuntos que debatemos e tentamos trazer em sala de aula”, finaliza.
Próximas sessões
O Cineclube Spcine Galpão ZL terá mais três edições. A saber: as próximas datas são 13 de novembro, 18 de dezembro e 29 de janeiro de 2025.
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Texto: Amauri Eugênio Jr.
Fonte: Fundação Tide Setubal