Notícias das Associadas
Estudo do A.C.Camargo Cancer Center sugere quais pacientes com câncer de colo do útero podem se beneficiar de cirurgia menos radical
- Detalhes
- Criado em 21/08/2017

Um estudo publicado por cirurgiões oncologistas, oncologistas clínicos e patologistas do A.C.Camargo Cancer Center identifica o grupo de pacientes com diagnóstico de câncer de colo do útero que poderia se beneficiar de uma cirurgia preservadora de nervos ou da não remoção do paramétrio, tecido que sustenta o útero na bacia. A preservação reduz o risco de morbidades como retenção de urina ou urgência para urinar, perda de lubrificação vaginal e alterações no funcionamento do intestino.
Primeira do gênero a ser realizada em um país em desenvolvimento, a pesquisa foi publicada como editorial principal da edição de julho da Gynecology Oncology, a mais importante revista científica do mundo na área. O estudo envolveu 345 pacientes operadas entre janeiro de 1990 e outubro de 2016 e mostrou que as mulheres com tumores de até 2 cm, sem comprometimento dos gânglios linfáticos e sem invasão vascular linfática, uma característica determinada por análise microscópica, têm risco praticamente zero de comprometimento do paramétrio pelo tumor.
Dentre as pacientes participantes do estudo, quase 30% apresentaram essa condição clínica que poderá significar, conforme novos estudos reforcem essa evidência, uma cirurgia bem mais simples, com melhor qualidade de vida. "Ainda não é o momento de se oferecer às pacientes esta opção, mas há, assim como esse, vários outros estudos em andamento. Acredito que é apenas uma questão de tempo para que se tenha um novo paradigma no tratamento cirúrgico do câncer de colo de útero em estágios iniciais", vislumbra o cirurgião oncologista, diretor do Departamento de Ginecologia do A.C.Camargo Cancer Center e autor correspondente do estudo, Glauco Baiocchi Neto.
O novo paradigma
O tratamento-padrão adotado hoje para pacientes com câncer de colo do útero com indicação cirúrgica é a histerectomia radical, que consiste na retirada do útero, do colo do útero, da parte superior da vagina, dos linfonodos, inclusive para análise, e do paramétrio, que fica ao lado do colo do útero. A remoção do paramétrio, que é o primeiro tecido para onde o câncer pode se infiltrar, é feita para se ter uma margem de segurança.
O que o trabalho publicado na Gynecology Oncology e outros estudos recentes questionam é se método em pacientes com câncer inicial se faz, de fato, necessário. "A cirurgia tem consequências para qualidade de vida. O ureter, que conecta os rins à bexiga, passa por ali e precisa ser separado para remoção do paramétrio. A área também contém nervos que vão para a bexiga e o reto, o que pode causar retenção de urina ou urgência para urinar, além de perda de lubrificação vaginal e alterações no funcionamento do intestino. Se identificarmos o perfil das pacientes que podem receber uma cirurgia preservadora de nervos ou de não remoção do paramétrio, estaremos poupando-as destas morbidades", afirma Glauco Baiocchi.
Com 16 mil novos casos previstos para 2017, de acordo com o INCA, o câncer de colo do útero é o tumor ginecológico mais comum no país. Em âmbito mundial, segundo o levantamento Globocan 2012, da OMS, a doença é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, com 528 mil novos casos anuais. Ainda de acordo com a entidade, aproximadamente 85% dos casos ocorre nas regiões menos desenvolvidas.
Fonte: A.C.Camargo