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FUNDAÇÃO JULITA - João Victor torna-se o gestor da sua vida


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A emoção que João Victor Pereira Moura sentiu, em 2014, ao subir novamente a rampa de entrada da Fundação Julita foi, nas suas palavras, indescritível. Jovem, na época com 16 anos, e tímido, ele conta que se sentiu acolhido por estar em um espaço conhecido.

Vieram lembranças dos momentos felizes que passou no prezinho, quando teve contato com plantas, vacas e outros bichos naquele espaço cheio de árvores. “Foi como voltar à infância.”

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Aos quatro anos de idade, sua mãe o matriculou no Emei Julita, escola da prefeitura que funcionava no mesmo espaço da Fundação Julita. Embora administrativamente fossem separadas, até dar esta entrevista, João Victor sempre acreditou ter feito o prezinho na Fundação Julita.

O engano não foi em vão e o ajudou a definir seu destino. “Como eu conhecia a Fundação Julita, quando comecei a pensar em ter uma especialização para trabalhar, logo lembrei de procurar um curso profissionalizante lá”, diz.

O que João Victor não sabia direito era que naquela subida da rampa estava dando os primeiros passos para se tornar o gestor da sua vida e da sua carreira. Iniciou ali uma trajetória de muita determinação até conquistar uma vaga na melhor universidade da América Latina, segundo o ranking Best Global Universities 2022, a Universidade de São Paulo, USP.

No ano anterior ao que ingressou no curso profissionalizante de eletroeletrônica da Fundação Julita, ele tinha participado de um processo de seleção para uma vaga no Centro Empresarial de São Paulo, localizado no Jardim São Luís, mesmo bairro que João Victor mora.

Sem nunca ter conhecido alguém que tivesse trabalhado em uma empresa - seu pai é ambulante e a mãe trabalha em casa de família -, o mundo corporativo era muito distante da sua realidade.

Quando ele chegou na empresa, a equipe de seleção propôs uma dinâmica de grupo onde os jovens eram questionados sobre expectativas e experiências. “Eu me senti mal, não sabia como me portar, o que falar e muito menos o que eu queria”, diz. Não foi aprovado.

Logo que João Victor entrou para o ensino médio começou a pensar em trabalhar. Como a primeira tentativa não deu certo, no segundo semestre de 2014 fez o curso profissionalizante de eletroeletrônica na Fundação Julita.

Ele conta que, como parte do curso profissionalizante da Julita, os alunos participam de dinâmicas que simulam situações do mundo corporativo (aquele que João Victor não tinha ideia de como era).jovens em ação no curso profissionalizante na Fundação Julita

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“Assim que me formei, na primeira vaga que me candidatei, eu fui selecionado”, diz. Ele afirma que se sentia totalmente diferente da primeira vez que disputou uma vaga de emprego. Estava confiante e preparado para o desafio. “Eu sabia como conversar e me comportar na entrevista.”

O primeiro emprego foi conseguido em uma empresa de previdência privada, a BrasilPrev, para trabalhar na área de aceitação de planos. A porta de entrada foi pelo programa Jovem Aprendiz, que estimula a contratação de estudantes.

Quando se formou no ensino médio, em 2015, o contrato venceu e ele achou que ficaria desempregado, mas seu primeiro chefe, naquele ano responsável por outra área, o contratou. João Victor passou a ter um emprego e novas responsabilidades: cuidar da documentação relativa aos planos de previdência.

Ficou na BrasilPrev de 2015 a 2017. “Eu gostava da empresa, mas não era isso que eu queria fazer”, diz. Nesta fase da sua vida João Victor já sabia quais eram suas expectativas de carreira.

No seu horizonte estava a universidade. “Na Julita participei do projeto de Educomunicação e fiquei mais solto, antes eu era muito sério”, afirma. Ele começou, então, a achar que comunicação “era algo bacana”.

Em 2017 fez cursinho da Poli, pago com o salário que recebia na BrasilPrev. De cara teve um choque de realidade. Embora nunca tenha faltado às aulas na escola e sempre tenha sido um ótimo aluno, João Victor percebeu que seu conhecimento estava bem defasado. “Os conteúdos que o cursinho dava como revisão para mim eram novos. Muita coisa eu nunca tinha visto.”

Mesmo com toda a dificuldade, no cursinho da Poli, João Victor passou a conhecer o rol de boas universidades e começou a sonhar e até arriscou o vestibular da USP. “Antes eu nem conhecia direito a USP e tinha uma visão de que era muito elitista, então, sempre pensei mais baixo”. Na primeira tentativa, não passou na USP.

Com determinação e já sabendo traçar estratégias para sua carreira, antes mesmo do vestibular, quando ainda trabalhava na BrasilPrev, João Victor começou a guardar dinheiro para conseguir fazer mais um ano de cursinho. Desta vez queria estudar sem trabalhar e, por isso, o cursinho teria que ser gratuito e o dinheiro guardado serviria para pagar a condução.

Entrou no cursinho popular MedEnsina e conseguiu ficar entre os melhores alunos. A classificação lhe garantiu uma bolsa para fazer os últimos três meses de aulas no Poliedro.

Em 2018, João Victor prestou o vestibular da USP para o curso Têxtil e Moda, por não acreditar em si. “Eu queria publicidade, mas não me sentia preparado.” Entrou na faculdade da USP na Zona Leste, mas desistiu por não ser a profissão que queria para sua vida.

No ano seguinte conseguiu uma bolsa de estudos no projeto Gauss para estudar no Anglo Higienópolis. Desta vez, além de estudar gratuitamente, recebia auxílio alimentação e passagem de ônibus.

Em 2020 atingiu seu primeiro objetivo: entrou na faculdade de Press Desing da USP. Em meio à pandemia de Covid, durante os dois primeiros anos não conseguiu conhecer o campus, mas continuou fazendo a gestão do seu destino.

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Com o apoio de um professor, João Victor fez um projeto de iniciação científica sobre a “Representatividade negra nos meios de comunicação impressos”.

Concorreu à bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi aprovado. “O projeto é muito legal, mas está dando muito trabalho. Não é fácil pesquisar e catalogar tudo...”, diz.

Neste processo, ainda em curso, da construção do seu destino, ele diz que a Fundação Julita foi o gatilho de tudo. “Lá aprendi como eu poderia extrair o máximo de cada situação e nunca me contentar com o mínimo”, afirma.

Texto: Teresa Navarro, jornalista e voluntária na Fundação Julita

Fonte: Fundação Julita