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FUNDAÇÃO JULITA - "Eu recebi mais da Fundação do que doei"

not 07 10 2022 13
 
Solange Pasquale de Mello Freire atuou por 10 anos como presidente da Fundação Julita, de 1993 a 2003. Mas a sua ligação com este espaço começa muito antes disso.

“Eu saía com a Dona Maria (Maria Hecilda, presidente da Fundação Julita de 1972 a 1993) de manhã, ela me pegava em casa e eu saía com ela. E eu me achei na Fundação. Aí eu comecei a me interessar pela fundação. Um dia a Dona Maria falou: vamos na secretaria da educação e ao invés de uma classe rural desta vamos fazer uma pré-escola. Ela ia na secretaria e arrumava os professores. Então começamos a correr, meio que reformar um pouco as casas para receber os professores”, conta Solange, que na época chegou a atuar como vice-presidente.

“Eu lembro que voltei e a Fundação não tinha 1 real. Não tinha nem conta em banco. Aí aperta daqui, aperta de lá. Veio a técnica da prefeitura e disse nós vamos fechar o CJ (Centro da Juventude), porque aqui está em condições indignas. Aí eu falei, a senhora me dá um tempo que eu prometo construir”.

As salas de atividades do CJ se encontrava com muitos problemas de infraestrutura, com infiltrações e móveis em más condições e por conta dessas dificuldades os moradores da região tinha certo receio.

A Fundação lutava para regularizar os seus programas. Conseguiram a liberação da creche, alguns convênios foram surgindo e já havia propostas para novos programas e quando o desenvolvimento parecia retornar a prefeitura queria que a EMEI Julita crescesse a todo custo.

“Eu fui viajar 1 mês e quando eu volto a EMEI Julita tinha conseguido uma máquina de terraplanar para fazer um estacionamento, coisa que eu mais tinha medo na Fundação, pois aqui é pra criança não é para estacionar carro. Era dia das crianças e aniversário da Dona Maria, 12 de outubro. A secretaria de Educação projeta a EMEI e projetou todo um pátio dentro da Fundação Julita. No dia 12 de outubro eles começam a obra, derrubam o muro, derrubam as árvores e invadem a Fundação Julita. Fui fazer um BO, mas nós demos tanta sorte que a máquina quebrou dentro da Fundação Julita. Esse lugar tem alguma magia especial. Telefonei pro Sr. Raul e falei. O Senhor vai levantar esse muro hoje, com a máquina dentro da Fundação. Quebrou? Deixaram? Doação! Fica a máquina aqui dentro. Levanta o muro e deixa. Fiz o BO, chamei o curador de fundações. Ele chamou o empreiteiro, que chegou no fórum tremendo. Nunca tinha ido em lugares assim. Nisso ele mostrou a planta que a prefeitura mandou ele construir.”.

E conseguimos reverter a situação. Após esse fatídico dia, e com muito empenho a EMEI foi transferida para um outro terreno ao lado adquirido pela prefeitura. Na época o prefeito de São Paulo era Paulo Maluf e essa foi a única EMEI construída em seu mandato.

Além deste caso emblemático, durante os 10 anos em que esteve como presidente da Fundação Julita, Solange passou por diversos outros desafios. Nessa mesma época a região sul se destacava pela questão da violência e para lutar contra isso a Fundação ajudou na organização da primeira caminhada pela Paz (Dia dos Finados) onde as instituições se reuniam para enfrentamento do problema da violência.

Em fase de crescimento, mas ainda com pouco dinheiro a Fundação passou a mostrar as caras. O primeiro passo foi conseguir alguns convênios para ampliar os cursos e logo então ampliar a divulgação para atrair toda a comunidade. Os cursos aconteciam, mas a forma de divulgação era ainda um tanto perdida e muitas vezes não chegava no público alvo. Nesse sentido, o primeiro impacto, que demonstrou o caminho a ser seguido como forma de comunicação foi referente a uma rádio comunitária. Um novo curso começaria em janeiro, mas como a parceria só foi firmada em dezembro, teria pouco tempo para convidar os moradores, que por sinal, poderiam sair de férias, viajar e nem tomar conhecimento das atividades.

“Aí o coordenador do curso disse que iria até a rádio comunitária. Aí eu percebi a importância de uma rádio comunitária. Lotava os cursos. E nessa época a gente viu que a rádio comunitária prestava um serviço muito bom para nós”.

Fora isso Solange lembra que para obter esse crescimento não podia negar ajuda e que para realizar os cursos tinha que aceitar o que oferecessem. “Certa vez o governo estava doando umas máquinas de sapateiro. Nós topamos pegar as máquinas e utilizamos no profissionalizante. Fizeram algumas coisas como, chinelos, chaveiros, cintos”.

O desafio de ser uma referência comunitária continuava e até situações que pareciam óbvias se tornavam uma nova luta. Mesmo já na década de 1990, com diversas escolas na região, inclusive a Antônio Manoel Alves de Lima, biblioteca era coisa rara.

“A nossa ideia no início era criar uma biblioteca para assessorar todas essas escolas. E funcionava. Muitas crianças iam usar”, afirma Solange ao lembrar como começou o acervo. “E eu tinha sido diretora de colégio particular e recebia no final do ano uma quantidade de livros das editoras. Tinha também muitos colégios que chamavam o carroceiro e despachavam aqueles livros. Eu levei muitos desses livros para formar a biblioteca lá na Fundação”.

Depois deste caso a Fundação Julita passa ser vista como um braço das escolas, principalmente do colégio Antônio Manoel Alves de Lima, que de certa forma faz parte da instituição. Quando precisavam de apoio já sabiam onde correr.

Era um momento de expansão na participação comunitária. Isso fez com que este imenso espaço não fosse utilizado só para a educação e se transformou no ponto de encontro das entidades localizadas no entorno.

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Por fim, apesar de muitas lutas e conquistas, ao relembrar toda a sua trajetória Solange fala em alto e bom som “eu recebi mais da fundação do que doei”.

Fonte: Fundação Julita